O Flirt

quinta-feira, 21 de agosto de 2014



A noite estava quente e a rua cheia de turistas convidava o olhar inquieto.
Sentámo-nos numa esplanada a beber uma imperial e a deitar conversa fora, mas das 5 pessoas ali sentadas, eu era o único com o telemóvel no bolso.

Os ecrãs tremeluziam com imagens de homens em tronco nu à procura de engate e notificações de amigos no facebook, enquanto eu bebia cerveja como se não houvesse amanhã.

Eventualmente comecei a sentir-me constrangido por não estar também no grindr e acabei por pegar também no meu, qual social smoking do século XXI, só para não ser aquele esquisitóide que queria... conversar.

Ficámos assim uns vinte minutos, naquela meia conversa morna com os ocasionais olhares fugazes para fora do ecrã, e quando me decidi a ficar mais uns minutos para sair sorrateiramente desculpando-me com o trabalho, ele apareceu.

Vi-o pelo canto do olho, alto e loiro, bem vestido e mais velho.
Quando se aproximou da nossa mesa,  a minha vontade de ir embora desapareceu num flash. Cumprimentou-nos casualmente e sentou-se perto de mim, perto o suficiente para conseguir cheirar-lhe a colónia.

Talvez fosse a colónia.
Talvez fosse a lua cheia.
Talvez fosse o sotaque britânico - disse-me que é de Nothingham.
Não sei especificar, só sei que não consegui disfarçar a atração... nem o quis fazer.

Por esta altura, devo frisar que eu não queria começar nada.
Não queria ser aquele atiradiço que se joga ao primeiro par de calças que encontra.
A sério que não queria. 

Mas ele fez um comentário, e não resisti a responder de forma provocante.

E ele achou piada.

E passámos a noite toda a jogar conversa fora e a trocar provocações.
"És bonito, já te disseram que pareces o Clark kent"
"Por acaso já"
"Mais uma cerveja? pago eu"
"Não posso, vou conduzir, é melhor não"
"Oh, mas não consegues voar clark?"
"Esqueci-me da capa em casa"
"Hm, é pena, podíamos voar os dois"
Acabámos por ir dançar sempre naquela atmosfera de flirt muito presente, corpos a roçar, segredos ao ouvido e mãos marotas pelo meio, e as horas passaram a correr.

Despedimo-nos com um abraço apertado - mais uma desculpa para me agarrar, I guess - e ainda não o voltei a ver até hoje, não descortinei sei se foi um ponto final ou apenas umas reticências.

Talvez tenha sido  divertido porque estávamos a jogar um jogo.
Talvez tenha sido divertido porque foi uma massagem ao ego ter um homem bonito interessado em mim.

A única certeza com que fiquei, foi que os homens a sério não estão dentro do telemóvel ou atrás do ecrã.

11 comentários:

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Respondo sempre e coiso.
(sou ótimo a motivar as pessoas hein?)